É com muito pesar que o Instituto Estadual do Patrimônio do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) recebeu a notícia e lamenta o falecimento, nesta sexta-feira (7/5), de Mário Braz da Luz, conhecido como seu Mário, membro da Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem.

Nascido na Fazenda do Macuco, em 02/02/1933, Mário Braz da Luz se mudou para a área onde hoje é a Comunidade dos Arturos, aos nove anos de idade. O patriarca da família, Arthur Camilo Silvério, foi um pai rígido e, segundo Seu Mário, “ensinou nós tudo a trabalhá”. Mário se recordava que aos seis anos de idade já “carreava” (andava no carro de boi), mesmo sem conseguir abrir as porteiras, momento em que sua irmã mais velha, Juventina, o ajudava.

Já morando no território da Comunidade, empregou-se nas fazendas próximas e assim carreava e tirava leite. Ele sempre agradeceu ao pai pelo gosto adquirido pelo trabalho: “graças a Deus, ensino nós tudo a trabalhar [...] o tostão que é docês é docês, o que é dos ôtros não põe a mão”. 

Acostumado desde pequeno à vida rural e às coisas ligadas aos animais e às plantas, seu último trabalho fora da Comunidade foi como caseiro em um sítio, onde se aposentou.

Seu Mário era o principal mestre benzedor da Comunidade, ofício que aprendeu com sua irmã Juventina. Dentre os Santos invocados, Seu Mário tinha devoção especial por Padre Libério, cuja imagem consta no molho de chaves que Mário utilizava na benzeção. Sua experiência na prática o levou a ter o reconhecimento de pessoas da Comunidade, de cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e de diversos municípios de Minas Gerais. Seu Mário passava todos os dias à frente da sua casa, benzendo crianças, adultos e idosos.

Além de exímio conhecedor de plantas e raízes medicinais, Seu Mário era Mestre da Folia e o Capitão-mor do Congado dos Arturos, sempre conduzindo a guarda de Congo. Dominava a prática do ritual de capina, conhecido na comunidade como João do Mato, e os cânticos do batuque. Também era o responsável por tocar o tambor Jeremias e iniciar o ritual do Candombe.

Seu Mário era considerado patriarca da comunidade, sendo o último dos chamados Arturos de primeira linha, ou seja, filhos do fundador Arthur Camilo Silvério. Mário Braz da Luz deixa esposa, filhos e netos, mas também uma comunidade inteira.

O Iepha-MG se solidariza com os familiares, amigos e com toda a Comunidade dos Arturos.