Já pensou em ir conhecer uma das regiões mineiras mais ricas em manifestações culturais, tradições e história?
Quem ai já não ouviu falar da Estrada Real? Caminho Velho? Caminho Novo? Caminho dos Diamantes? A história de Minas Gerais é marcada pelos ciclos do ouro e do diamante, das conquistas dos portugueses e da realeza no Brasil!
Embora a história desse destino tenha origem nas cidades históricas mineiras, não é delas que estamos falando dessa vez, mas sim do Vale do Jequitinhonha.
Da extração de riquezas se desdobram muitas outras histórias. Da fuga de cidades fundadas pelo suor de um povo escravizado, nasce a esperança em outras regiões em meio à paisagem sertaneja de Minas.
Onde fica o Vale do Jequitinhonha
O Vale do Jequitinhonha está localizado na região nordeste do estado, e se divide entre Baixo, Médio e Alto Jequitinhonha.
O Vale do Jequitinhonha e suas riquezas!
Dois marcos são considerados muito importantes para a ocupação histórica no Vale do rio Jequitinhonha: o crescimento das cidades de Serro – hoje conhecida por sua produção de queijos artesanais - e de Diamantina – agraciada pela Unesco com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1999 –. Isso porque após o ano de 1729, as pedras preciosas de Diamantina ganharam destaque nas economias brasileira e portuguesa.
O Ciclo do Ouro foi marcado pelos excessos e requintes do barroco. A parte da história que não se conta é que também nos levam a esse período os caminhos feitos de pedras, igrejas construídas em adobe e pau-a-pique, sobrados e casarões coloniais se destacando na paisagem bucólica. Características que preservam uma memória visual da efervescência de uma época que valorizou as pedras preciosas de nossas Minas Gerais. Sim! O Vale do Jequitinhonha tem muitas riquezas!
A Rota dos Quilombos: outras histórias da Estrada Real
O que muitas vezes não paramos para pensar é que onde havia a realeza, havia também a escravidão. E muitos quilombos se formaram ao longo do Vale do Jequitinhonha com a união de pessoas negras escravizadas e que mantinham suas culturas próprias, sua agricultura, sua culinária e resistiram pelo sonho de viverem em liberdade.
Os quilombos se formaram nas regiões de difícil acesso, em grotas e chapadas, distantes dos arraiais ocupados pelos colonizadores. Ali as pessoas se uniram para se protegerem e trocaram conhecimentos, conseguiram tirar seu sustento da terra e reviveram suas manifestações culturais africanas misturadas às tradições indígenas da região.
A cultura negra de Minas Gerais!
Atualmente o Vale do Jequitinhonha é uma das regiões do Brasil com o maior número de comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares.
É, ainda, o berço de um patrimônio cultural reconhecido internacionalmente.
Foto: Artesanato em Cerâmica - Artesã Maria do Carmo Barbosa Sousa - Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo - divisa dos municípios de Minas Novas e Turmalina – Crédito foto: Lupri do Carmo (2018)
Foto: Peça de Algodão no Tear - Artesã Natalina Soares de Souza - Associação de Produtores e Artesãs de Rosa Grande - Berilo – Crédito foto: Lori Figueiró do Livro "À luz do algodão".
Foto: As cestarias trançadas na palha de milho - Artesã Aneli Pereira - ARCA Associação dos Artesãos Chapada do Norte - Feira da UFMG (2019)
Foto: As congadas - Congadeiro Domingos da Paixão (in memoriam). Crédito da foto: Hélio Dias (2015)
Foto: Os grupos de congado e seus tambores - Congado de Nossa Senhora do Rosário dos Quilombolas de Berilo – Crédito foto: Lori Figueiró.
Foto: Os grupos de congado e seus tambores - Congado de Nossa Senhora do Rosário dos Quilombolas de Berilo – Crédito foto: Lori Figueiró.
Foto: O artesanato em trançado de couro na madeira - ARCA Associação dos Artesãos Chapada do Norte – Crédito da foto: Adriane Coelho - Feira da UFMG (2019)
Foto: As Marujadas - Senhor Marciano do Grupo de Marujada União de Ribeirão da Folha de Minas Novas – Crédito da foto: Lupri do Carmo (2016)
Além disso, ainda fazem parte das manifestações culturais da região as bandas de taquara e os grupos de folias de reis com suas caixas de folia. Tudo isso é o legado dessas culturas afro-brasileiras e indígenas alinhadas ao sincretismo da religião católica e as religiões de matriz africana.
Tanto é que a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte é registrada como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais pelo Iepha-MG e acontece há dois séculos!
Tem até um documentário feito pelo IEPHA sobre a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte. Assista aí.
Como surgiu a Rota dos Quilombos?
Desde 2010, comunidades quilombolas de Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas se uniram para fazer o que chamamos de turismo de base comunitária, que é quando as comunidades se organizam para receberem visitantes e com isso geram trabalho e renda para a região mostrando seus saberes e sua cultura. Nasceu assim a Rota dos Quilombos!
Visitando as comunidades quilombolas você passa a ter uma imersão nessa história que acabamos de contar, mas com o olhar e pela narrativa dos próprios descendentes de pessoas que um dia foram escravizadas.
Estas comunidades foram capacitadas para receberem turistas que se interessam pelas paisagens e belezas rústicas do semiárido mineiro, oferecem trilhas pelo cerrado em transição com a caatinga, além da simplicidade dos receptivos familiares, que preparam comidas típicas quilombolas no almoço e quitandas acompanhadas de um cafezinho no final da tarde.
A vista bonita do por do sol sobre as chapadas é um extra que acompanha um cafezinho ou o piquenique na beira do Rio Araçuaí.
Um pouco do que você vai conhecer na Rota dos Quilombos
Você sabia?
- Minas Novas foi capital mineira por um dia e tem o primeiro “arranha céu” de adobe;
- Berilo é o nome de um tipo de pedra preciosa e a água marinha está entre as variedades de um Berilo;
- Chapada do Norte é considerada por historiadores como um grande quilombo e tem mais de 95% de sua população atual autorreconhecida como negra.
Estas e outras curiosidades você vai saber das histórias contadas pelos povos do Vale do Jequitinhonha.
Histórias jogadas de versos, nas rodas de conversa debaixo de um pé de fruta, ou numa oficina de quitandas ao redor do forno de barro nas cozinhas externas das casas, aprender fazer o trançado do milho e levar para a casa uma cestinha de artesanato que você mesmo aprendeu com uma mestra artesã, ou quem sabe aprender sobre tecnologias sociais de captação de água de chuva e plantios no semiárido...
Outra vivência é da religiosidade que está muito presente em todas as comunidades quilombolas e cada uma comemora seu santo padroeiro numa época do ano diferente. Então tem festa tradicional durante o ano todo!
Repletas de quitandas doces e salgadas servidas com café e muito batuque, as bandeiras são levadas pelos festeiros e seguidas dos grupos de congado com suas saias floridas e chapéus de palha, levando música, cantorias e bênçãos pelas estradinhas de terra vermelha a fora.
“ô dona da casa
Sua casa cheira
Cheira cravo e rosa ole lê
Flor de laranjeira”
São essas e outras experiências que o visitante vai encontrar na Rota dos Quilombos e se encantar com o jeito simples de viver longe das grandes badalações das capitais e no encontro marcado com muitas de nossas ancestralidades.
Como conhecer tudo isso de perto, fazer contato e reservas?
Gostou da proposta de imersão cultural, não é? Mas antes de partir para o Jequitinhonha, você precisa saber que:
- Os passeios só acontecem quando há disponibilidade de um Agente Local de Turismo de cada comunidade visitada e dos receptivos familiares. Por isso, é preciso entrar em contato com antecedência com a “Redetur – Rede de Apoio Integrado ao Turismo de Base Comunitária da Rota dos Quilombos” pelo e-mail turismoquilombolamg@gmail.com
- Nas cidades de Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas há opções dehospedagem em pousadas e hotéis, além de restaurantes de comida mineira, postos de gasolina e caixas eletrônicos de banco.
- Leve dinheiro em espécie para as visitas às comunidades, muitas ainda não passam cartão.
Clique aqui e saiba como agendar sua visita à Rota dos Quilombos.
FONTE: Portal Minas Gerais www.minasgerais.com.br